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Análise de Campeão: K'Sante

O gigachad de Nazumah

DevAutorRiot Cashmiir
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Nota da autora: só para lembrar, nós não toleramos ódio e qualquer tipo de preconceito na nossa comunidade.

Mais do que apenas pixels na tela, Campeões são o fruto de todo o esforço dos desenvolvedores que deram vida a eles e do apoio oferecido por outras equipes ao longo do caminho.

K'Sante é a obra de equipes da Riot que desejavam criar um personagem que introduzisse algo novo no LoL: um tanque que deixa a própria defesa de lado para cair no 1x1 contra os duelistas mais aterrorizantes. Inspirado na cultura do oeste africano, este homem traz um novo olhar para o que é ser negro em Runeterra. É um lendário caçador de monstros cujo desejo de corresponder às próprias expectativas faz com que machuque o homem que mais ama.

Esta é a história do desenvolvimento de K'Sante.

Deixa que eu mesmo faço isso!

Os tanques são incrivelmente poderosos. Esses Campeões ocupam uma função única — e necessária — no elenco, sendo responsáveis por iniciar combates e proteger os carries da equipe. Acontece que ser um grandalhão invencível tem lá suas desvantagens. Eles sofrem nas mãos de duelistas e são vitimados embaixo da torre ao mesmo tempo em que rezam para a Fiora não fazer uma investida no Nível 6.

Então, ao pensar em qual tipo de Campeão pretendia criar, a equipe de K'Sante tinha em mente um tanque que poderia evitar esse aperto de vez em quando, alguém capaz de dar conta do recado sozinho.

"Todo mundo quer saber: 'Cadê o tanque?'. Mas ninguém pergunta: 'Como vai, tanque?'. Nossa intenção era responder à pergunta desenvolvendo um tanque que abordasse alguns dos problemas da função com uma fantasia nova", explica Buike "AzuBK" Ndefo-Dahl, designer de jogo. "Desde o início, nosso objetivo era criar um tanque que fosse bastante complexo, ou seja, que exigisse muita habilidade. Eu tive a ideia de que, em um momento, esse Campeão diria: 'Deixa que eu mesmo faço isso'. E partimos daí."

O que é "dar conta do recado sozinho" para um tanque? Todo mundo conhece o poder em confrontos 1x1 do tanque, lutador, assassino, encantador, suporte, vanguarda, retaguarda e mago de DPS explosivo... conhecido como Ornn. Mas se trata de apenas um tanque, que não foi originalmente desenvolvido para arrebentar todos os Campeões do LoL. Já K'Sante, sim.

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O kit de K'Sante tem tudo o que se espera de um tanque: escudo, avanço em direção a aliados e CG. Ele escala com atributos defensivos, arremessa o oponente pelo terreno com um pontapé e simplesmente o abate. Como acabamos de falar, tudo o que se espera de um tanque.

"Enquanto desenvolvia a ultimate de K'Sante, eu não parava de pensar naquela cena de Naruto em que o Rock Lee tira os pesos das pernas e todo mundo se pergunta: 'Espera aí, ele consegue fazer isso?'. Quando apresentei o design de K'Sante, foi assim que expliquei a ultimate dele", AzuBK brinca. "A proposta era que ele ficasse na vanguarda de um confronto de equipe, usasse todas as habilidades para proteger os carries, preparasse o terreno para a equipe e, quando tudo estivesse em Tempo de Recarga, dissesse: 'Bom, já gastei tudo. Hora de abater geral!'."

"O momento à la Naruto foi central quando assumi o design de K'Sante. Na versão inicial da ultimate, que sempre se chamou Forma Irrestrita, ele não chutava o inimigo por cima da parede. Nós estávamos nos perguntando como transformar um tanque na estrela do show e, no fim das contas, a resposta é só deixar que ele dê uma surra no oponente", comenta Daniel "Riot Maxw3ll" Emmons, líder de design. "Dito isso, essa habilidade não é só flores, porque, ao decidir viver um momento grandioso e empolgante, K'Sante deixa a equipe sem um tanque. Foi por isso que adicionamos o chute: os carries ficam vulneráveis diante da equipe inimiga, já que ele abandona completamente o confronto e parte para o x1. O Campeão sofre uma desvantagem, que permite que a habilidade seja mais balanceada e evita que ele simplesmente domine a luta."

Quando vê a oportunidade de avançar com tudo, K'Sante deve escolher entre proteger a equipe e caçar a presa. Então, a equipe resolveu facilitar um pouco a escolha para quem jogar com o personagem.

"Para mim, acertar o W de K'Sante, Criador de Caminhos, foi a parte mais desafiadora do kit dele. O problema era que, durante os testes de jogo, as pessoas não queriam lançar mão dela antes de usarem a ultimate, porque propicia uma superação empolgante", conta Jacob "Riot Llama" Crouch, designer de jogo. "É muito raro os tanques terem um momento em que a multidão pira por conta de uma jogada defensiva. A barreira de vento do Yasuo é o que chega mais perto disso. Mas Criador de Caminhos também deve gerar esse pico de dopamina, já que traz redução de dano e bloqueia CG. Então, para eliminar a relutância das pessoas em usá-la antes que ele conjurasse a ult e possivelmente ficasse vulnerável num confronto 1x1, fizemos com que o Tempo de Recarga do W fosse redefinido sempre que ele assumisse a Forma Irrestrita."

Um caçador de monstros de Nazumah

Sendo tanto um protetor quanto um duelista, o estilo de jogo de K'Sante gera desafios interessantes fora do aspecto da mecânica de jogo. Por exemplo, que tipo de arma é usada por uma pessoa que é capaz de oferecer tanto proteção contra dano quanto de dar uma surra nos inimigos? Onde K'Sante aprendeu a lutar assim? E, melhor ainda, por que teve de aprender?

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"Durante o conflito shurimane entre os Darkin e os Ascendentes, uma quantidade espantosa de refugiados escapou. Muitos deles viajaram para o sul e se estabeleceram à beira do deserto, perto de um oásis, fundando a cidade de Nazumah", explica Michael "SkiptoMyLuo" Luo, escritor de narrativa sênior. "A cidade prosperou durante os cerca de cinco séculos que se passaram desde a fundação. Nela, vivem pessoas de diversas regiões, etnias e culturas que fugiram da guerra ao longo dos anos."

No entanto, o oásis em que os fundadores de Nazumah criaram raízes está longe de ser um paraíso. Lá se encontra a única fonte de água em centenas de quilômetros, e os nazumitas foram obrigados a defender o lar deles contra invasões do Vazio, leviatãs da areia, saqueadores e algo muito mais aterrorizante.

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Numa tentativa de derrubar Azir, Xerath fez o impensável: forçou monstros gigantes do deserto shurimane a passar pelo ritual da Ascensão. O resultado da Ascensão malsucedida foram criaturas horríveis e distorcidas conhecidas como os Baccai. Essas feras colocam Nazumah e os habitantes de lá em perigo. Então, aos fundadores da cidade democrática não restou outra possibilidade a não ser caçar os Baccai e os outros monstros que ameaçavam o lar e a segurança deles.

"Espero que um traço especial da versão de Nazumah de caça a monstros seja o fato de que os nazumitas imbuem armas, roupas e bens em geral com a essência ou as características dos monstros que destroem, em vez de apenas empunhar os ossos e vestir o couro das criaturas", explica o artista conceitual sênior Justin "Riot Earp" Albers. "A arma de K'Sante vem do couro de uma serpente-leão e carrega características reptilianas, ou seja, tem propriedades regenerativas. A ideia combinou bastante com a mecânica de jogo dele, já que o Campeão rompe o couro defensivo das armas dele na Forma Irrestrita."

As armas de K'Sante (chamadas de ntofos) surgiram de uma fonte de inspiração incomum: tonfas.

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Tonfas são armas usadas principalmente nas artes marciais okinawanas e servem tanto para a defesa quanto para o ataque, coisas que K'Sante executa dentro de jogo. No nosso mundo, elas são utilizadas para redirecionar o impulso do golpe de um atacante contra ele mesmo.

"No fim das contas, K'Sante não brande tonfas de verdade. Elas são bem mais pesadas e compridas, o que faz sentido para o corpão de quase 114 kg e 2 m de altura do Campeão, mas o uso de K'Sante é bem parecido. Ele se protege com as armas, ajusta a empunhadura e golpeia a terra, causando uma leve onda de choque de pura força", esclarece Riot Earp.

Ah, é verdade, é melhor batermos um papo sobre isso... K'Sante não usa magia. Ele é apenas um homem. Um homem que treinou a vida inteira para ser o melhor caçador de monstros de Nazumah e é a personificação da perfeição humana.

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No passado, Nazumah contou bastante com a caça a monstros para sobreviver. Entretanto, a mera sobrevivência ficou para trás há muito tempo: caçar monstros virou uma das áreas em que o povo nazumita prosperou. Então, a equipe começou a pensar em como incorporar isso à cultura da cidade.

"Os caçadores de monstros de Nazumah são tão idolatrados pelo povo que ganham um status de celebridade. Tracei paralelos com os atletas olímpicos do mundo real. K'Sante passou a vida inteira treinando para chegar a este nível", comenta SkiptoMyLuo. "O personagem se destaca em meio aos Campeões de Shurima, que são seres divinos, imperialistas e mágicos. As crianças de Nazumah poderiam crescer e se tornar alguém como ele. Sempre imaginei K'Sante ficando cara a cara com Azir e olhando nos olhos do imperador como quem diz: 'Quem é você na fila do pão?'. Acho que essa imagem ajuda a trazer equilíbrio para o conflito. Dada a oportunidade, humanos podem ser incrivelmente poderosos."

A fusão entre África Ocidental e Runeterra

"Fiquei pensando por muito tempo em como poderíamos criar um Campeão negro que fosse diferente dos outros que já temos", elucida AzuBK. "Senna, Lucian, Ekko, Rell e Pyke são ótimos personagens... apesar de uma coisa. A característica principal de todos eles são seus próprios problemas ou suas circunstâncias. Ekko é esperto, corajoso e engenhoso para uma criança da Subferia. Lucian carrega uma dor profunda e passa a vida inteira dedicado a vingar a morte da esposa dele. Senna é a esposa morta , que foi raptada e aprisionada. Rell foi aprisionada numa 'escola', onde serviu de cobaia. Pyke é um zumbi obcecado por matar pessoas. No geral, eles não tiveram controle sobre a própria vida e história."

"Não estou dizendo que isso é um problema individual desses Campeões — muitos personagens incríveis são definidos por suas dificuldades. Mas uma boa representatividade, ainda mais num elenco vasto como o do LoL, só existe quando mostramos todas as perspectivas", prossegue AzuBK. "Não existe nenhum Campeão negro parecido com o Garen que enfrenta problemas, mas que não é definido por eles. Nenhum no comando. Foi por isso que quisemos criar um personagem negro assim. Uma pessoa que, sim, tem problemas, mas que está no comando da situação que está vivendo e do próprio destino, um homem exemplar de Nazumah."

"Um homem exemplar de Nazumah" virou a estrela-guia da equipe. A intenção era criar um personagem que fosse a primeira coisa que viesse à mente de alguém ao pensar em Nazumah, um lugar inspirado nas tradições e na cultura da África Ocidental, principalmente de Gana.

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"Quando começamos a trabalhar no K'Sante, tínhamos outro objetivo, que era criar um Campeão inspirado em Gana. Boa parte da minha família é da Nigéria. Somos vizinhos e, de vez em quando, rivais de Gana. Então, conversei com minha mãe sobre estilistas, fotógrafos e outras inspirações ganesas em geral", compartilha AzuBK. "Ela me indicou vários estilistas e artistas ganeses e, logo de cara, nós ficamos com vontade de capturar os padrões vibrantes e o tecido."

A África Ocidental é conhecida por ter tecidos e padrões lindos. Kente, um dos tecidos mais famosos do mundo, vem de Gana. Ele é notório pelas cores vibrantes, que carregam significados profundos, e pelos padrões intrincados. O tecido ankara pode ser visto em toda a África, bem como no resto do mundo. Na hora, a equipe soube que esse era o ponto de partida perfeito para o figurino de K'Sante.

A equipe queria homenagear a cultura de caça a monstros de Nazumah, porém existem várias questões com a ideia de vestir um personagem inspirado na África Ocidental com roupas que são obviamente feitas de monstros. Nazumah é uma cidade de artesãos que, tecnológica e cientificamente, estão em pé de igualdade com Noxus. Eles não trajam ossos e couro, e sim decoram as próprias roupas com belos desenhos e pedras preciosas. Assim, o tecido ganês caiu como uma luva quando a equipe começou a elaborar o figurino de K'Sante... até que ela topou com alguns problemas do LoL.

"Fontes de poder são importantes no LoL. Nós tentamos atrair o olhar de jogadores para elas, e a fonte de poder de K'Sante não são as roupas, mas as armas. Os tecidos ganeses são tão vibrantes e intrincados que acabam chamando a atenção", esclarece Riot Earp. "Enfrentamos alguns desafios enquanto tentávamos fazer com que dessem certo no LoL. No fim das contas, decidimos que, para fazer as coisas do jeito certo, precisávamos seguir adiante com as cores e os padrões marcantes. Na tentativa de balancear a leitura no jogo, saturamos as cores e adicionamos texturas e desenhos às armas para que elas se destacassem contra as roupas."

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A equipe desejava retratar a cultura e a tradição da África Ocidental não somente na aparência, mas também na história de K'Sante.

"Trabalhamos junto com o RIG do Riot Noir (nota do editor: Riot Noir é nosso grupo de recursos de funcionários para Rioters negros) e seus integrantes nos contaram o quanto o folclore e as narrativas de tradição oral são importantes na cultura africana, o que achei familiar, já que o mesmo vale para a cultura dos hui da China", conta SkiptoMyLuo. "K'Sante cresceu ouvindo histórias e contos maravilhosos sobre um tio-tetravô que lutou contra os Ascendentes e sobre o pai, que derrotou um monstro incrível e forjou a arma dele. Essas narrativas estão tão enraizadas na cultura nazumita que foram incorporadas à cidade e às pessoas. Elas fazem parte do motivo que impulsiona K'Sante a virar o orgulho de Nazumah."

Um conto de dois caçadores

Às vezes, os personagens se tornam inteiros. Quando você passa um tempo pensando sobre eles, parece até que conversam com você e escrevem a si mesmos. Enquanto SkiptoMyLuo refletia sobre K'Sante, sobre tudo o que ele era e poderia ser, incluindo suas esperanças, medos e sonhos... O Campeão contou a própria história.

"Quando o objetivo e o kit de K'Sante estavam bem definidos, passei bastante tempo pensando sobre a personalidade dele. Nós tínhamos criado um Campeão com a intenção de resolver algumas das frustrações dos tanques da rota superior, e eu queria elaborar um personagem que personificasse a experiência que as pessoas têm lá", recorda SkiptoMyLuo. Então, ele escreveu.

K'Sante vive se cobrando bastante, e essa cobrança é fruto do sonho de ser o maior caçador de monstros de Nazumah e do desejo de provar o próprio valor ao seu povo e... bem, a si mesmo. É um nazumita extremamente altivo: ele luta contra os Ascendentes e se orgulha do quanto se esforçou para se tornar quem é hoje. No entanto, o orgulho cega e, sem dúvidas, fere as pessoas que mais amamos.

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Tope, a ex-cara metade de K'Sante

Tope e K'Sante formavam um par perfeito: enquanto o primeiro é calmo e moderado, o segundo vive de cabeça quente. Juntos, eles podiam fazer qualquer coisa. Juntos, caçavam: Tope estudava o inimigo e K'Sante desferia o golpe fatal. Assim, os dois homens, que cooperavam tão bem, se apaixonaram. Até que enfrentaram um obstáculo intransponível: orgulho e juventude.

"Uma hora, eles não foram capazes de matar a serpente-leão Baccai que estavam caçando. Foi aí que a desavença começou. K'Sante precisava matar o monstro para corresponder às próprias expectativas de ser um caçador heroico e um ídolo para o povo nazumita. Tope tentou convencê-lo a pôr o pé no freio e fazer uma pausa, mas os dois acabavam voltando a brigar", explica SkiptoMyLuo.

"Os relacionamentos românticos costumam revelar várias das nossas piores características. Só que, de modo geral, eu queria que todo mundo se identificasse com a história de K'Sante e Tope", continua SkiptoMyLuo. "Colaboramos com o Rainbow Rioters (nota do editor: nosso RIG LGBTQIA+) para criar uma experiência comum em relacionamentos, aquela em que você e a outra pessoa não conseguem expressar direito seus sentimentos e frustrações um pro outro. E seu par TAMBÉM não é capaz de deixar claro os sentimentos e frustrações pessoais aos quais está dando prioridade. Daí, no fim das contas, vocês têm que seguir caminhos diferentes, seja num romance, numa amizade ou algum outro tipo de relacionamento. No fim, K'Sante e Tope amadurecem com a experiência e reconhecem que cada um carrega uma parcela de culpa pelo término, mas continuam amigos."

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"Pode ser que nem todo mundo ache a história de Tope e K'Sante perfeita e se identifique com ela. Acho que é importante aceitar isso. Nós só precisávamos descobrir qual história contar. Afinal, a boa representatividade não vem da criação de algo perfeito, e sim da criação contínua", afirma AzuBK. "Passei muito tempo conversando com SkiptoMyLuo sobre a sexualidade de K'Sante, porque, adivinhem só: sou gay. Tenho muitas opiniões sobre a história do Campeão. Ela não é perfeita — não tem como. Então, eu me coloquei no lugar da comunidade jogadora e pensei sobre a questão não como um desenvolvedor do LoL, mas como um homem negro e gay. Me perguntei: 'Como alguém que joga o jogo, isso me parece uma tentativa boa e séria? Será que eu acho digna?'."

"Sei que não é perfeita, porque um personagem masculino e gay não compensa por todos os personagens LGBTQIA+ que deixamos de fazer", prossegue AzuBK. "Mas, no fundo, acho que a resposta é 'sim'. Sim, acho que é digna. É um começo. Agora só temos que fazer de novo. E de novo. E de novo."



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